quarta-feira, 7 de outubro de 2009

[ Meu Doce Demônio ] Capítulo II

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- Capítulo II -


Continuei olhando fixamente para o par de olhos amarelados que me encarava. Diferente da última vez que eu vi um monstro como aquele, os olhos transpareciam puro ódio.

Dei um passo para trás, receosa. Se me movimentasse muito bruscamente poderia ser atacada. Não acreditava que estava passando por aquilo de novo. Estava sentindo muito medo.

Enquanto tentava me distanciar sem que o monstro avançasse, ouvi um chamado ao longe. Reconheci como a voz estridente da Ino, e me desesperei mais ainda. Se elas aparecessem ali, poderiam ser mortas por aquilo. Recuei mais rapidamente, e quando achei que estava distante o suficiente me virei e corri o máximo que meu fôlego suportava, sem olhar pra trás.

Cheguei até Ino e a vi com uma expressão preocupada ao lado de Hinata. Antes que alguma das duas começassem a falar, segurei seus pulsos e continuei a correr para longe. Lógico que elas estranharam, mas por via das dúvidas, começaram a correr sem questionar.

Assim que entramos em um dos vagões no metrô, parei de correr e busquei desesperadamente minha bombinha asmática. Depois de me sentar e começar a respirar com mais normalidade, Hinata me interrogou, tomando cuidado para que eu não me esforçasse demais.

- O que aconteceu Sakura?

- Me desculpem, eu... não sei como explicar. – comecei, sem fitá-las.

- Tente – Ino estava séria, parece que havia entendido a gravidade do problema.

- Vocês vão me achar louca, mas escutem tudo primeiro. – respirei fundo e me pus a explicar toda a minha trajetória, desde o dia anterior, até o último ocorrido. À medida que ia contando o que aconteceu, Ino parecia acreditar, tanto que fazia expressões assustadas, já a Hinata, parecia não conseguir crer, ela estava perplexa diante de tudo o que dizia.

Depois de terminar de contar, deixei que ambas digerissem as informações que havia passado. Esperava por algum sermão ou algo do tipo, coisas comuns que se aconteciam quando alguém dizia o que eu disse. Pura insanidade a minha, claro.

- Sakura, você tem certeza do que está dizendo? Não foi sonho, pesadelo, um filme de terror... ? – Hinata perguntou séria.

- Sim, certeza. A dor, principalmente, foi real.

Houve um silêncio prolongado. Todas nós estávamos sentadas, pensativas e preocupadas. Seguimos em silêncio até o final do percurso, e assim que descemos, Hinata se separou de nós, pegando seu caminho de casa, não sem antes salientar:

- Tome cuidado com essas coisas, Sakura. Se for realmente verdade, eu temo o que possa acontecer a você – ela me olhava preocupada. Enfim, estava começando a acreditar.

- Não se preocupe Hinata. – sorri – Não se esqueça que eu sou muito forte – ela sorriu de volta, acenando positivamente.

Despedimos-nos e cada uma foi para o seu lado. Eu e Ino morávamos perto, então ainda seguiríamos por algumas ruas junto.

Como sempre, a Ino não conseguiu ficar quieta por muito tempo. Eu esperava que ela dissesse alguma coisa a respeito do que havia contado, mas ela sequer tocou no assunto. Talvez ainda não tivesse absorvido completamente o que eu disse.

Enquanto ia contando sobre as coisas que tinham acontecido a ela durante seu último namoro, eu pensava comigo mesma se devia ter dito a história toda a ela e a Hinata. Sim, eu pulei a parte em que aquele homem me beija, afinal, qual a importância disso na história toda? O problema é só que eu estava realmente afoita e queria desabafar isso com alguém.

Não sabia se devia contar ou não, mas meu maior desejo era conseguir compartilhar minha incredulidade com alguém. Aquilo foi tão... surreal.

- Sabe, eu não sei se a Hinata reparou – Ino começou, repentinamente, me fazendo voltar para a realidade – Mas eu notei que você não contou exatamente tudo o que tinha pra contar. Estou errada? – ela se virou em minha direção, sorrindo como se tivesse feito uma grande descoberta, ao mesmo tempo em que estava com medo de ouvir a resposta. Arregalei os olhos, descrente na capacidade da Ino em descobrir o que se passava comigo.

- Você realmente me conhece bem, né? – sorri de volta. Nos conhecíamos desde o jardim de infância, não esperava menos dela. Ela descobria sempre o que estava me incomodando, o que eu estava pensando, minhas preocupações... – Bem, tem uma coisa que eu não contei mesmo.

Pausei repentinamente, pegando fôlego.

- O homem de olhos escarlate não foi embora, como eu havia dito – Ino me encarava séria – Na verdade, eu desmaiei pela falta de ar, e só fui acordar depois de algum tempo. – pausei novamente, só que, desta vez, por vergonha do que iria revelar – Quando eu acordei, eu estava nos braços daquele homem – ouvi um gritinho de espanto de Ino.

- O que ele fez com você? – ela estava chocada com a possibilidade dele ter se aproveitado de mim.

- Me deixe terminar de contar, Ino – a repreendi, acalmando sua euforia – Bem, o problema nem foi ter acordado nos braços dele, o problema é que ele estava me beijando – ela ia me interromper de novo, mas me adiantei – Eu tentei separá-lo de mim, e ele sequer resistiu, apenas se distanciou de mim e colocou uma das mãos no meu tórax, e antes que eu pudesse tentar me soltar dele, eu senti um calor estranho na mesma região em que a mão dele estava, e foi só aí que consegui voltar a respirar normalmente. Eu não precisei fazer mais nada, ele me colocou sentada e fez com que eu encostasse minhas costas na parede, pra não cair. Depois disso, ele foi embora. – finalizei, fitando os próprios pés.

Pelo silêncio da Ino, eu estava crente de que ela, ou estava achando aquilo um absurdo, ou acreditou e estava achando tão surreal quanto eu achava. Esperei pela reação dela, mas ela continuou quieta. Olhei-a de esgoela, e a única coisa que vi foi uma Ino séria, como nunca vi antes. E, quando menos esperava, ela começou a rir, não com aquela gargalhada estridente de sempre, mas uma risada suave, como se estivesse descrente do que havia ouvido.

- Se eu não te conhecesse, Sakura, e claro, se ele não fosse tão perigoso, eu diria que você gostou de ser beijada – corei espantada.

- C-Claro que não, Ino! – ela voltou a rir, agora mais abertamente.

Quando menos esperava, nós já estávamos em frente á minha casa, e Ino, que ainda sorria, se despediu de mim e foi direto para sua casa. É, acho que ela não acreditou cem por cento no que eu disse, mas só de ela ter comentado sobre isso, acho que já é um começo.

...


Naquela noite, meus pais demoraram mais que o costume para chegar em casa. Sabia que não era preciso alarde, já que, de vez em quando eles ficavam até mais tarde trabalhando, mas especialmente aquele dia, eu não estava me sentindo nem um pouco bem para ficar sozinha em casa. Eu estava receosa, preocupada e extremamente confusa sobre o que havia acontecido antes de chegar em casa.

Eu sequer me preocupei em jantar, fui direto para o banho e depois tentei dormir.

Apesar de estar com medo, consegui tirar um rápido cochilo, me levantando depois de algum tempo para poder beber água.

Antes de começar a descer as escadas eu escutei um barulho estranho vindo do lado de fora da casa. Talvez fossem meus pais, pensei. Fui verificar da janela, abri somente uma fresta da cortina para visualizar lá fora.

Não consegui ver nada de início, mas aos poucos fui identificando uma estranha movimentação do outro lado da rua. Semicerrei os olhos tentando ver melhor, e só aí pude identificar o causador do barulho. Petrifiquei. Olhos amarelados.

O monstro que havia encontrado mais cedo estava em frente à minha casa, e carregava algo em sua boca. Algo não era um corpo. Senti meu coração se apertar lembrando que meus pais ainda não haviam chegado. O corpo estava ensangüentado e irreconhecível.

Me distanciei da janela e fui até o telefone, disquei o número do celular da minha mãe e ela logo atendeu, dei uma desculpa correndo e desliguei, para ligar logo em seguida para meu pai. Ele não estava atendendo. Fiquei afoita, tentei mais uma ou duas vezes, e o algo que eu temia aconteceu, ouvi o celular do meu pai tocar do lado de fora de casa, já um pouco longe. Corri até janela e não vi mais os monstros.

Aos poucos, comecei a sentir meu próprio rosto molhado, estava chorando de desespero e não tinha nem notado. Abri um pouco mais a cortina, tentando encontrar o monstro, mas foi em vão.

Sai porta afora, sem notar que ainda estava de pijama, e que corria diretamente para o lugar que evitava até em pensamentos. Meu pulmão doía, meus olhos ardiam, e eu não conseguia pensar em mais nada plausível. Já acreditava que o pior havia acontecido, e eu precisava fazer alguma coisa. Ia arriscar minha vida, mas acho que nada importava mais.

Corri desesperada até a grade que cercava o hospital abandonado e tentei gritar com o pouco ar que me faltava.

- Por... Por favor! – gritei ofegante – Me ajude!

Tentei pegar ar para gritar novamente, mas minha voz não saia. Agachei, sentindo meu tórax doer mais que nunca. Fechei os olhos com força, até sentir alguém me puxar bruscamente para trás, para depois ser carregada até um lugar mais aberto.

Senti-me ser beijada novamente, e instantaneamente abri meus olhos, visualizando o mesmo homem de antes. Senti um gosto de sangue e então ele se separou de mim, repetindo os mesmos gestos que havia feito antes. Apoiou uma de suas mãos em meu tórax e depois de sentir o calor na região, pude voltar a respirar.

Ainda estava com os olhos fechados, quando o ouvi começar a falar.

- O que está fazendo aqui? – sua voz soou tão suave que me forcei a abrir novamente os olhos apenas para encará-lo. Seus olhos não estavam escarlates – Diga. – ordenou.

- Aqueles... aquilo... atacou meu pai – meus olhos marejaram – Por favor, me ajude.

Ele permaneceu em silêncio. Senti medo por aquela falta de reação. Pensei em algo que ajudasse a convencê-lo de me ajudar, mas minhas palavras não saiam. Continuei olhando-o fixamente nos olhos, estavam tão negros e profundos que eu sequer me dei conta que aos poucos ele foi adquirindo uma cor vermelha intensa.

- Fique aqui – sua voz adquiriu um tom grave, e até mesmo irritado.

Não ousei desobedecer. Ele fez com que eu me sentasse e se levantou, virando-se para ir, mas antes que fosse, ele me jogou uma espécie de bolha de vidro, com uma pedra negra no interior.

- Fique com isso – no instante seguinte, ele desapareceu.

Fiquei onde ele me pediu que ficasse sem questionar. A única coisa que fiz foi visualizar melhor a pedra que ele havia jogado para mim. Era estranha, parecia que uma fumaça negra a encobria. Típico de filmes de terror. Foi pensando assim que comecei a derramar mais e mais lágrimas, com medo, receio, culpa e raiva. Raiva por aquilo estar acontecendo, raiva por ter agido precipitadamente, raiva por ter que recorrer a alguém tão perigoso e pouco confiável quanto aquele homem, raiva por ser sempre tão inútil.

Enquanto me lamentava mentalmente, senti uma forte tontura, mas me forcei a ficar de olhos abertos. Encarei a pedra que ainda segurava, apertando-a com força, imaginando o que aconteceria se eu quebrasse aquela bolha de vidro que a protegia. Aos poucos, fui cedendo à tontura e minha visão foi escurecendo. Por mais que tentasse, nada me fazia manter meus olhos abertos.

...


- Sakura! – ouvi alguém me chamar, preocupado – Acorda! – reconheci a voz como sendo a de Ino. Abri vagarosamente os olhos.

Olhei em volta e reparei que estava no meu quarto. Tudo estava normal, ou pelo menos parecia estar, porque a Ino estava com uma expressão preocupada, mas não fez muita confusão. Se fosse algo realmente sério, eu perceberia na hora.

- Nossa, você parecia uma louca dormindo! – sentei-me – Ficava gritando que precisava de ajuda. Com o que você sonhou?

Sonho? Como assim sonho? Tudo o que aconteceu parecia ser tão real, não é possível que toda a dor e o desespero que eu senti tenham sido apenas um sonho. Virei subitamente para Ino e perguntei onde estavam meus pais. Ela arregalou os olhos, sem entender minha reação.

- Eles estão lá em baixo, tomando o desjejum. Por que essa aflição toda?

Não respondi sua pergunta. Comecei a lembrar do meu... sonho, e refletir sobre tudo o que havia acontecido. Eu pude ouvir a voz daquele homem, parecia ser tão real. Até mesmo o... o beijo, e o gosto de sangue, eu pude sentir tudo.

Coloquei uma de minhas mãos sobre meus lábios, relembrando do momento em que havia sido beijada. Se aquilo foi um sonho, então eu deveria estar ficando louca.

- Se arrume logo, já estamos atrasadas – Ino alertou, deixando o quarto.

Levantei desajeitada, sentindo uma estranha dor nas pernas. Parecia que eu tinha corrido quilômetros sem cessar. O que não era de todo mentira, já que, no meu sonho isso acontecia.

Troquei de roupa e comecei a arrumar minha cama. Depois de dobrar tudo, puxei meu cobertor para esticá-lo sobre minha cama de forma que não ficasse amassado, mas fui impedida pelo som de algo caindo no chão. Fechei os olhos já achando que tinha quebrado alguma coisa importante.

Me agachei à procura do objeto. Tive que vasculhar em baixo da minha cama, o que me fez demorar ainda mais para achar o que havia caído. Até que senti algo gelado encostar em minha pele, e assim que consegui agarrar o objeto, puxei-o para a claridade para vê-lo.

Era uma bolha de vidro, com uma pedra negra em seu interior. Arregalei os olhos. Aquilo foi realmente um sonho?

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1 comentários:

Equipe AS disse...

Melldells *O*

Estou completamente apaixonada 8D'

Muito bom, continuarei acompanhando *O* É a Iswak do AnimeSpirit *O*

 
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